Para quem conhece o blogue, sabe que o iniciei por brincadeira, que depois
virou paixão e por fim o deixei no mais completo abandono.
Disse claramente que o "Eu" que o tinha iniciado e a sua visão da
vida já não existia, advindo dai a minha dificuldade em recomeçar a escrever
com igual sentimento, com igual paixão. Necessitava para o poder fazer de
encontrar outra linha condutora, outra motivação. Ideias existem, sei o que quero, mas quero tanta coisa que se torna difícil
definir o que devo partilhar aqui ou não.
A revolução que se tem dado dentro de mim e do modo como me relaciono com os
outros é de tal intensidade que parece não deixar pedra sobre pedra. Não se
admirem se devido a essa alteração, o blogue que reinicio hoje pouco se
assemelhe com o anterior, e dai talvez me surpreenda, e se mantenha em
harmonia. Só o tempo o dirá.
Falando de nós, do pequeno núcleo familiar do qual sou a cuidadora, Deus tem
nos brindado com um ano de muito força interior para gerir tudo o que se abateu
sobre nós.
Na parte que me concerne, aceito, demorei tempo demais para deixar os grilhões
do passado e o mal que me faziam, só mesmo uma intervenção exterior e com a violência
da carta da Torre do Tarot poderia ocorrer, sendo essa a carta mais certa para
descrever o que se passou e continua a passar na minha vida, embora que nos
dias de hoje por uma decisão minha.
Tenho muitas vezes me refugiado no silêncio, para reencontrar a minha voz
interior, chamada muitas vezes de intuição, guia, o que lhe queiram chamar.
Silenciei-a há muitos anos atrás, afogada de dúvidas, medos e desconfiança.
Todos nascemos protegidos e com esta voz e com outras a que muitos chamam
somente vozes ou diferentes "eus", logo nunca estamos sós, mas só damos força
aos eus que mais se assemelham com o que achamos que devemos ser, tendo
vergonha de uns, tirando a força aos outros, e outros só aparecendo em certos
momentos fulcrais das nossas vidas. O certo é que quanto mais escolhemos e
damos força a um dos nossos eus, mais corremos o risco de não sermos equilibrados
e sentir que algo falta, que algo não faz sentido. Quando se fala que os
opostos se atraem, de facto, neste caso, são mesmo o equilíbrio. Claro que
alguns eus, que dão força ao que de pior pode existir num ser humano devem ser
dominados e/ou quase extintos mas mesmo esses puderam ser necessários quando
está em causa a nossa sobrevivência. Quantas vezes são os eus da bondade e da
ajuda ao próximo que por vergonha excluímos ou dizemos que ouviremos na próxima
vez de tão ocupados/culpado que estamos com o eu responsável, trabalhador e
voltado para o urgência do dia-a-dia.
No meu caso, das experiencias vividas, ao tomar o lugar de vitima,
encontrava desculpa para justificar as situações que não controlava, dando a
outro alguém o poder sobre a minha vida. Que eu era eu? Sei agora que aprendi a
esconder os meus eus ainda menina por medo de não ser aceite por aqueles que
amava, só em laivos um eu teimoso e revolucionário aparecia, sendo castigado
logo de seguida. Acabei dócil, mas não tão dócil, aceitando o que não devia nem
queria aceitar com medo de perder quem amava, numa tirania de vítima sobre o
seu opressor. Sei que neste parágrafo descrevo-me numa forma muito negativa,
mas de facto ninguém é um retrato de uma ou duas cores, fui muito mais que
isto, mas deixei que esta parte conduzisse a minha vida tempo demais. Hoje não
me revejo no papel de vítima, libertei-me de dezenas de quilos que todos os
dias transportava comigo e me faziam ter uma autoestima a necessitar da
validação dos outros sobre quem realmente era e o valor que tinha.
Neste blogue, sempre primei pela honestidade, mesmo aquela que me doía, que
me arrancava lagrimas enquanto escrevia, nele despedi-me do meu passado e fiz o
luto pela perda do amigo que me fez começar esta mudança, em menos de um ano a
menina medrosa que nunca quis ser adulta cresceu, perdeu batalhas que não
queria perder, recebeu alegrias que não esperava sentir e de vez em quanto se
sentiu amada e orgulhosa por ser mulher.
Preciso de mais tempo para me reconstruir, mas preciso deste cantinho para
escrever, libertar tudo o que vai na minha alma, vou por isso, tentar fazer
histórias romanceadas, escrever poemas no meu fraco inglês, falar do que estou a estudar, fazer os meus exercícios práticos
aqui, acho que os vão achar um pouco loucos e delirantes, mas se tocar um de
vós terá valido a pena. Esperem por mim, estou de volta.....e cheia de amor e
ensinamentos para partilhar.