Against all odds
Existem músicas que sem uma razão concreta escolhemos para os
momentos mais difíceis (e por oposição, também o fazemos nos melhores) da nossa vida.
No Verão de 1985, esta foi a música que me acompanhou quando o
meu namoro terminou pela primeira vez, era tudo o que eu lhe queria dizer e não
podia, que sem ele só existia uma vazio e o queria de volta. Dois anos atrás, e
num sentido algo diferente, a mesma música povoou a minha alma, quando situações da
vida fizeram outra pessoa, que me era muito especial, se distanciar de mim.
Em 1985, o meu namorado, meu ex-marido, era a pessoa que eu
amava perdidamente, não existia homem nenhum para além dele para mim, o resto
eram amigos e/ou anjos (no sentido de não terem sexo), quantas vezes as minha
amigas implicavam por chamarem à atenção de que estava ali um homem bonito e eu
não via nada, no meu mundo de homem-mulher, só ele existia. Mas esse grande amor
era algo bem mais ao tipo adolescente, mais fisico e hormonal, sendo a atração o que
provavelmente nos levou a manter uma relação amorosa por tanto tempo, eramos quase opostos em tudo na vida. Acredito, que foi isso que o nosso amor não
superou, tanto desencontro e diferença, o querer mudar o outro por não o
entender, o dar e não ser entendido.
Durante muitos anos julguei que ele não me amava, mas que eu
poderia amar o suficientemente pelos dois, devo tê-lo feito sentir-se
miseravelmente mal, querendo que ele me entendesse, visse o meu real eu, mostrando inúmeras
vezes porque achava que ele não me entendia e/ou amava, suplicando a sua
atenção, e nesse entretanto o deixando mais frio e distante de mim, e sem saber
como agir para mudar a situação.
Quanto lamento e tempo perdido, mais do que ele me amar ou
não, quem na verdade não se amava era eu. Houve momentos em que nos magoamos
mutuamente, numa incapacidade total de comunicação, grandes desentendimentos
nascidos de situações sem qualquer valor ou sentido. Só entendi e compreendi o
seu tipo de amor há poucos anos atrás, e para isso, teve que existir alguém
para me acordar para outra visão da realidade, para me conseguir mostrar que no
papel de vitima e mal amada, só eu tinha a perder.
Sempre reconheci o que de bom havia no meu ex-marido, o seu
amor pela nossa filha. O seu carinho e cuidado, mesmo que do seu jeito, por
nós. Sempre lutei para que as nossas diferenças não interferissem na sua
relação com a nossa filha, sempre busquei o entendimento e a compreensão, mas
sem a boa vontade da sua parte, isso não passaria só de um desejo, não seria uma
realidade. Vejo nele, mais do que tudo, alguém que nunca desistiu de se manter
ao nosso lado, de ajudar quando pedi, um amigo e alguém que nunca deixarei de
amar.
Como disse noutro post atrás, não acredito em amores que
morrem, quando são amores de verdade, acredito sim que existem amores que
adormecem, que deixam de lutar, pelo medo de uma nova deceção, de uma nova dor,
ou por acharem que só assim se podem conseguir entender e de algum modo
permanecer ligados para sempre.
A segunda vez que escolhi esta música, fi-lo não porque se
ouvia constantemente, mas porque, estava ligada a algo que estava a viver e dizia tudo o que sentia no campo emocional. A pessoa com quem eu tinha-me
habituado a partilhar tudo, que, com a sua atenção e bondade me tinha levado a
abrir a minha caixa de pandora, ensinado a ver-me através dos olhos de outro
alguém, e a descobrir em mim partes que eu nunca tinha dado valor, estava-se
retirando da minha vida.
Na minha mania de estar certa, sumariamente numa situação o julguei, e lancei
mão de todo o meu sarcasmo para o magoar, claro que isso não foi tudo, mas essa
foi a gota final. E como o compreendo...
Perdi mais que tudo, alguém com o qual tinha uma forte conexão espiritual, um forte carinho/amor e em quem confiava. Considero, ter sido a pessoa que me conhecia e/ou entendia melhor depois
da minha filha, que me incentivava a dar o meu melhor, que era capaz de me ouvir, e no fim emitir a sua opinião masculina, alguém que vivendo uma realidade completamente diferente e distante da minha sempre me respeitou e muito me ensinou. Foi esta interação a grande razão para questionar a minha vida e para que iniciasse a mudança da visão que tinha dos outros, de mim e do mundo.
Sinto-me muito grata por Deus me dado a oportunidade de conhecer essa
pessoa, pois de um jeito só Dele, me deu a possibilidade de entender, curar e perdoar o meu passado, de manter comigo quase todos aqueles a quem quero muito bem, digo
quase, pois para ser perfeito, eu o teria mantido a ele, não somente como um amigo silencioso, mas como um amigo que partilhasse comigo os seus e os meus dias como antigamente. Talvez exista ai mais uma lição por aprender, mas continuo a deixá-la
para depois, numa eterna esperança, de que um dia ele consiga ver que a nossa amizade se sobrepõem a tudo o resto, pois uma ligação de almas nunca
morre.
Como o sei? A vida nos seus desencontros, fez-me perder o meu melhor
amigo de juventude, já passaram mais de vinte anos e nada sei dele, mas
lembro-me dele frequentemente e lhe desejo todo o bem. Nesta era da internet, e
adorando ele, naqueles tempos o spectrum, seria de pensar que numa simples
pesquisa o encontraria, mas até hoje nada.
Hoje, apeteceu-me novamente ouvir esta
música, e recordar duas pessoas que ao seu jeito muito ajudaram na construção de quem eu hoje sou, e nesse relembrar, acabei recordando outra, também muito importante, e que espero, um dia
a vida me traga de volta.
Como um verdadeiro amor, a verdadeira
amizade nunca morre, simplesmente espera uma oportunidade para cruzar o tempo e
nos fazer sentir, em meia dúzia de palavras, que os sentimentos são os mesmos e
todos os anos passados, podem ser postos em dia entre sorrisos cúmplices e
recordações.
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